Teresa Gonçalves Lobo é uma mulher sensível. Suave. Comunicativa. Assim é ela também como artista: suave, intensa, directa. As caligrafias de Teresa Lobo confundem-se com a sua vontade de falar e comunicar o que a alma lhe entrega para que ela nos dê um pouco do que sente e sabe. Teresa Lobo não é uma artista qualquer. Ela tem e transporta a semente de criação que apenas se observa nos melhores.

A sua pintura caligráfica tem um plasticismo de formas inquietante. É água que (de)corre dos seus papeis de arroz, são rios de emoção e de atrevimento com que nos atrai, caminhos que percorremos sem nos darmos conta do maravilhoso encanto das palavras e das suas formas. No final, uma sensação de quietude e de agradecimento pelo simples facto de tudo termos visto em detalhe.

Plasticamente, a obra de Teresa Lobo é matizada. Retrai a força, tensiona o conflito entre a ideia e – literalmente – o verbo, num desaguar constante de fluidez lânguida e contemplativa. Teresa Lobo não nos satisfaz a curiosidade, antes nos aguça o olhar com a calma sensualidade das suas linhas escritas/desenhadas. O que é aparentemente fácil na sua obra é-o de facto também. O que é complexo fica por detrás do traço, na intenção da autora, no significante das formas, no que antecede ao aparecimento da obra. É aí que Teresa Lobo encontra a sua singularidade: tratar com sincretismo o que o seu imaginário lhe descreve como a forma ideal das palavras.

Nas palavras encontrou a autora a sua forma pessoal de se expressar, nos traços o veículo de transporte das suas ideias e dos seus conceitos sobre a arte. É na conjugação de ambos que se deve ler a plástica de Teresa Gonçalvrs Lobo, as suas parábolas espelhadas de realidade. Uma autora a fazer a sua história. Sem duvida, a nossa também.

 

Manuel Carmo
Comissário

Novembro de 2008
Texto de catálogo da exposição “ Rios d’ Alma ”,  Museu da Água de Coimbra,  2008